quarta-feira, 21 de março de 2012

Cuidados ortopédicos na Síndrome de Down




  Do ponto de vista ortopédico, crianças com Síndrome de Down apresentam maior flexibilidade articular devido a grande elasticidade ligamentar. Além disso, apresentam atraso no desenvolvimento das aptidões motoras.
  Logo ao nascimento devem passar por avaliação pediátrica, ortopédica e cardiológica para afastar patologias congênitas.

O que o ortopedista precisa examinar?  

O exame físico geral envolve: 

 - Análise da mobilidade e estabilidade articular ( Principalmente quadris / joelhos / tornozelos e pés pois suportam o peso corporal na marcha )

 - Pesquisa de contraturas que coloquem as articulações em posturas viciosas anômalas

Obs: Atenção especial deve ser dada aos quadris, pois tem risco de displasia do desenvolvimento, ou seja, situação onde os quadris são instáveis (saem e voltam à posição normal), ou são luxados (permanecem fora da posição irredutíveis).

- Comprimento dos membros inferiores

- Arco de movimento dos joelhos e estabilidade da articulação da patela (antiga rótula), pois são de risco de instabilidade e mal formação

- Análise da coluna vertebral

- Avaliação completa dos membros superiores




Qual a historia natural do ponto de vista motor?

 Uma conversa franca com os pais é fundamental. As crianças precisam de estimulo motor fisioterápico precoce, com objetivo de aquisição de aptidões motoras. É importante que a criança inicie a terapia motora só após da avaliação ortopédica completa. O inicio da marcha na maioria das vezes atrasa, porém conseguirão marcha independente. Cada criança tem seu tempo. A Fisioterapia é fundamental nesse quesito.

 O formato dos pés no início da marcha será plano (sem a curvinha medial), o que dará um aspecto de que estão pisando torto. Embora cause preocupação, na maioria das vezes, não atrapalha o desempenho motor, geralmente não precisam de palmilhas e devem ser protegidos com tênis confortável quando já tiverem iniciando os passos com ou sem auxilio.

 Quedas frequentes são comuns, porém não tem nenhuma relação com os pés planos. Ocorrem simplesmente por imaturidade do sistema nervoso central em permitir coordenação motora.


E a coluna cervical? Há risco para prática esportiva?

  Sim há risco. É fundamental, após o inicio da marcha independente e principalmente antes de iniciar prática esportiva de contato, uma avaliação do pescoço.

Por quê?

  Instabilidade atlantoaxial, entre a primeira e a segunda vertebra cervical, além da entre o crânio e a primeira vertebra cervical.

A coluna cervical protege a medula espinhal, quando há instabilidade e a criança é submetida a esportes que predispõe a trauma no pescoço, isso pode levar à lesão medular e suas consequências quanto a paralisia motora.

Como é feito?

  Exame físico, análise da marcha, mobilidade do pescoço, presença de dor ou torcicolo de repetição. Em relação às imagens, o fundamental é o Raio-X dinâmico em perfil com flexão e extensão, onde serão feitos medições do intervalo entre a primeira e segunda vertebras cervicais.Com esses dados podemos, com segurança, recomendar a prática esportiva ou contra-indicar esportes de contato até o tratamento da instabilidade ser concluído.

Qual a periodicidade das avaliações ortopédicas?

  A recomendação é anual, podendo ser antecipado se surgirem queixas antes disso.

  Surgimento de claudicação (mancar) - sem causa aparente, diminuição das distâncias caminhadas, acompanhado ou não de dor, deve ser motivo de preocupação e revisão ortopédica.

  Quadris, joelhos e pés devem ser monitorados com exame físico e de imagem se necessário.

  A coluna vertebral apresenta risco de desenvolvimento de escoliose principalmente na fase de crescimento rápido da adolescência e, portanto, também deve ser acompanhado.

  Com esse protocolo podemos manter a saúde das nossas crianças especiais com Síndrome de Down.


Um abraço a todos,
Dr. Maurício Rangel

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