terça-feira, 13 de março de 2012

EDUCAR PARA A SENSIBILIDADE


A primeira tarefa da Educação é aprender a enxergar.

Essa frase de Rubem Alves leva-nos a refletir sobre a nossa existência no mundo da Educação. Não estamos nele por acaso. E, também, faz-nos pensar sobre o que ensinamos - se é que algum educador ainda trabalha somente com essa idéia. Será que no processo de ensino/aprendizagem transmitimos nossas experiências? Fazemos pesquisas, a fim de nos apropriarmos daquilo que ainda não tivemos oportunidade de saber?
Para sermos coerentes com tais respostas, faz-se necessário repensar nossa prática pedagógica. É preciso que passemos por uma verdadeira metamorfose, desaprendendo o que se tinha aprendido para apropriar-se do novo. Mas o que é o novo? Onde está o novo?
Urge buscar-se, incessantemente, o novo! Como diz Rubem Alves, é preciso pensar com a boca, procurar pelos sabores e saberes, degustando-os.
Cabe ao educador ter a sensibilidade para amar aquele cuja inteligência está nas entranhas do coração. Encontrar o novo nas diferenças físicas, psíquicas e sociais.
Falta, infelizmente, por parte de muitos educadores a arte da sedução pedagógica – não adianta saber se o corpo não tem capacidade de sentir; falta o reencontro consigo mesmo; falta sonhar e possibilitar que o aprendiz sonhe,pois no sonho   sempre alguma coisa que dá prazer; falta despertar    (-se) para o desejo de aprender e ensinar; falta invadir o mundo da imaginação e da magia – é da magia da educação que criaremos pessoas com sentimentos diferentes; crianças mais dóceis, menos violentas, mais mansas, capazes de construir um mundo melhor, com mais prazer. Adultos, mas sempre crianças.
Então, voltemos às nossas indagações iniciais. E, novamente, nos vêm mais questionamentos: A nossa Educação é movida pelo afeto? Onde buscá-lo? Não estariam escondidos nos contos infantis, na expressão das crianças que pedem a repetição das mesmas histórias... Não estariam elas resgatando o homem bárbaro ou a doçura e o encanto da mocinha? Não estariam, portanto, construindo um mundo a partir da afetividade? Das emoções? Dos sentimentos?
Extremamente importante essa questão dos contos de fada em função da sua natureza simbólica. É por meio deles que a criança coloca-se na posição de cada personagem, percebendo-se enquanto agente, sentindo-se num mundo real, mesmo que simbolicamente.
Faz-se importante, então, resgatar o gosto pela leitura, ler para as crianças, abrir as portas da biblioteca, fazer o aluno sentir felicidade ao encontrar-se com um livro. Cabe, a nós educadores, oferecer-lhes o melhor cardápio, uma vez que a criança está faminta para aprender e tem uma capacidade enorme de assimilação.
Para que a escola se renove e oportunize o encontro com o novo é preciso armar-se de beleza e arte, abrindo as janelas ao aprendizado íntegro, conciso, sólido.
Cabe à Escola lembrar-se de que o que fica é o residual, a essência. Na maioria das vezes ela é invadida pela burocracia e se esquece desses elementos emocionais.
É preciso emoção para que o aprendiz dê conta dos conteúdos acadêmicos. É preciso colocar-se no lugar dele, sentir como ele, raciocinar como ele. “E quando estiveres perto eu arrancarei teus       olhos e os colocarei no lugar dos meus. E tu arrancarás meus olhos e os colocarás no lugar dos teus; então, eu te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus”. Será que não é isso que falta para nós educadores, além da criatividade e do entusiasmo?
Exigimos sempre dos nossos alunos aquilo que nem sempre temos a capacidade de exigir de nós mesmos, porque esquecemos que a mente inteligente aprende a esquecer aquilo que aprendeu; ela guarda a vivência, a essência, a experiência. O aprendizado não colocado nos livros não se escreve, mas é o que fica guardado para sempre. O que é importante reter na vida são as trocas e as relações que estabelecemos entre as coisas, os fenômenos e as pessoas (BRANDÃO, 1997).
Vê-se, então, que o papel do educador enquanto facilitador e mediador das relações que o aprendiz estabelece está no criar situações para que os alunos consolidem essas trocas, servindo-se da competência intelectual responsável; de um conhecimento fluido, instável e renovador; do despertar para criticidade, partilha e capacidade de ouvir; do aprender a tolerar; do compromisso com a simplicidade voluntária e com a paz e do resgate dos valores humanizadores, éticos e morais. É fazer emergir nos alunos aquilo que deve ser atingido através da nossa prática docente e, para isso, precisamos assumir, de fato, que o empenho político do educador é educar.
Sabemos que o educador não tem que ser um campeão, mas deve esforçar-se para ver seu aluno no pódio. Somente chegará lá se der condições para o aprendizado, se ouvir o que lhe tem a dizer, se deixar colocar para fora suas experiências vividas.
Somente com esse novo olhar para o que é novo, com sensibilidade e prazer fará com que nós educadores, pequenas nascentes do saber, cheguemos aos grandes mananciais da aprendizagem.

João Alfredo Carrara
Gestor Escolar; Doutor em Biologia Geral e Aplicada; Coordenador e Professor das Faculdades Anhanguera em Bauru; Diretor das Escolas Integradas da FunBBE


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